Depois de anos fora do Brasil oficialmente, a Xiaomi retornou ao mercado nacional chegando pelas mãos da DL, garantindo ao contrário da última vez uma completa linha de produtos e ponto de venda físico em detrimento da venda online, que ainda não foi oficialmente disponibilizada.
No entanto, ao contrário do que muitos fãs esperavam, os novos dispositivos chegaram com preços altos desmontando a narrativa de que “se a Xiaomi voltasse pro país, suas concorrentes estariam em apuros”.
Como era de se esperar, a marca foi fortemente criticada pela sua base de fãs mais fanáticos devido à disparidade entre o preço cobrado lá fora e aqui dentro.
O problema é que isso já era pra lá de esperado pelos que contam com o pé no chão e conhecem minimamente a realidade das operações comerciais no país (o que inclusive avisamos reiteradas vezes em lives realizadas não somente no nosso canal como também em participações de parceiros, quando convidados).
Sabendo no entanto que boa parte da galera ainda não entendeu os motivos por trás da disparidade, resolvemos trazer aqui uma explicação detalhada dos motivos para uma diferença tão grande nos valores.
Essas regras se aplicam a todas as empresas que operam no mercado brasileiro e não visa defender marca A ou B mas sim permitir com que usuários entendam exatamente o que acontece para smartphones e outros dispositivos serem tão mais caros quando comparados com o mercado internacional.
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ou comprar pronto
O primeiro ponto a se considerar em todo o fluxo de disponibilização de um produto é o custo inicial deste e nesse aspecto, temos duas vertentes específicas: comprar ou desenvolver o aparelho em questão.
No caso da DL, a opção foi de adquirir um aparelho da Xiaomi, apostando na relevância do nome no mercado como um todo, além da grande linha de produtos disponíveis, algo bem alinhado à vontade da empresa de estar em vários mercados ao mesmo tempo.
Como a marca não apostou na aquisição do já conhecido “white label” (ou seja, um produto pronto que você simplesmente dá nome próprio e coloca sua marca), a empresa acaba por ter de bancar um custo maior.
Fabricar ou importar
Depois da definição por adquirir um produto pronto (e no caso da Xiaomi, com marca conhecida), o próximo estágio é o de definição se a empresa apostará em importar ou fabricar localmente o aparelho.
Nesse sentido, a DL em específico optou por fazer sua disponibilização baseada na importação dos produtos, não indo pro mesmo caminho da própria Xiaomi quando veio anteriormente (na época, foi feita uma parceria com a Foxcomm para montagem dos aparelhos no Brasil).
Essa decisão tem seus ônus e bônus. Por um lado, a empresa economizou no investimento para a compra de linha de produção própria, o que incluiria maquinário, testes de qualidade e treinamento de equipes para a produção, deixando tudo isso nas mãos da própria Xiaomi lá na China, o que de certo modo, garante a qualidade já conhecida por usuários (o que permite também se fugir do “produzido no Brasil não deve prestar”).
Em contrapartida, essa decisão faz com que o aparelho já ganhe um incremento no valor de chegada ao país, incluindo não só o frete, documentações para liberação de recebimento no país e impostos incidentes sobre importação (só de alíquotas federais, uma empresa paga aproximadamente 45% sobre o valor de recebimento).
Homologação para venda oficial
Superado o estágio de compra e importação dos aparelhos, a próxima fase refere-se à homologação destes novos dispositivos na ANATEL e INPI. A estimativa é de que esse custo linear e individual (cada modelo paga individualmente) está entre R$50 e R$100 mil.
É óbvio que esses custos também compõem o preço final do produto afinal, empresas não vivem de sol e amor mas sim de dinheiro e precisam recuperar investimentos feitos.
Adequações ao mercado e legislação
Outro custo pouco pensado por parte dos usuários é o quanto se gasta por uma fabricante (ou importadora) para disponibilizar um produto no mercado brasileiro.
Nesse sentido, são avaliados possíveis custos relacionados ao atendimento de consumidores para a garantia, a necessidade de assistências e disponibilidade de peças de reposição.
Cabe lembrar que nesse aspecto, também entra o treinamento de técnicos para o correto reparo dos dispositivos, a criação de um sistema de atendimento ao consumidor (SAC) e mais.
Marketing
Querendo ou não, toda marca é obrigada a investir de alguma forma em marketing e social media, gerando buzz relacionado a disponibilização e venda dos seus produtos.
Obviamente, é possível gastar menos mas mesmo assim, fazer-se visto no mercado como opção é extremamente necessário para alavancar as vendas e assim sustentar a operação como um todo.
Se realizar eventos e fazer propagandas não fosse importante, Samsung e Motorola não estariam constantemente sendo veiculadas nas grandes emissoras nacionais (como Globo, Record e SBT).
Estratégias de venda
Antes de efetivamente iniciar a venda dos produtos, a empresa precisa definir qual será a sua estratégia de vendas e qual o público-alvo destes dispositivos.
Por exemplo: A Xiaomi apostou em 2014 pela disponibilização apenas online, fugindo em um primeiro momento de pontos de venda física, o que afastou a marca de potenciais consumidores, especialmente aqueles que não acreditam/confiam na venda de aparelhos por meio da internet, algo que era padrão da empresa, tendo posteriormente iniciado a aposta nas “Mi Stores” (não confundir com empresa de mesmo nome no Brasil).
A utilização de um (ou vários) pontos-de-venda físico também amplia o custo de disponibilização afinal, é necessário sustentar aluguel destas lojas, manutenção estética e pagamento de funcionários (o que geralmente também incluem comissões sobre a venda em adição ao salário fixo).
Venda
Hora de falar do lado bom da operação, certo? Mais ou menos!
Além dos pontos citados no item “estratégias de vendas”, a venda em si também gera custos adicionais relacionados a tributação, o que inclui o envio de dispositivos para os PDVs e impostos incidentes sobre as vendas destes, sendo estes últimos calculados sobre o valor total do produto em questão.
Muito longo pra ler, resume?
De maneira geral, o principal vilão para tornar o custo de disponibilização muito alto quando comparado com o mercado nacional é a nossa alta carga tributária (turbinado pela opção de importar ao invés de produzir localmente), aliado ao custo de homologação e de infraestrutura básica para dar suporte aos seus clientes.