A Netflix, Inc. e a Warner Bros. Discovery, Inc. (WBD) anunciaram nesta sexta-feira (5) um acordo definitivo para a aquisição da Warner Bros. pela gigante do streaming. A transação, que envolve pagamento em dinheiro e ações, avalia a empresa em aproximadamente US$ 82,7 bilhões (Enterprise Value), com um valor de capital próprio (Equity Value) de US$ 72 bilhões. O movimento estratégico inclui a absorção dos estúdios de cinema e televisão da Warner, bem como as operações da HBO e HBO Max, consolidando algumas das maiores propriedades intelectuais da indústria do entretenimento sob o mesmo teto.
O fechamento do negócio está condicionado a uma reestruturação prévia da WBD, especificamente a separação de sua divisão “Global Networks” em uma nova empresa de capital aberto, processo estimado para ser concluído no terceiro trimestre de 2026. A previsão é que a aquisição completa pela Netflix seja finalizada em um período de 12 a 18 meses após as aprovações regulatórias e dos acionistas.
Detalhes financeiros e estrutura do acordo
Os termos do acordo estabelecem que os acionistas da Warner Bros. Discovery receberão uma compensação mista. O valor por ação da WBD foi fixado em US$ 27,75. Deste total, US$ 23,25 serão pagos em dinheiro e US$ 4,501 em ações ordinárias da Netflix.
A parcela paga em ações está sujeita a um mecanismo de ajuste conhecido como “collar”. Este mecanismo protege o valor da transação com base na variação do preço das ações da Netflix. O cálculo considera o preço médio ponderado por volume (VWAP) de 15 dias, medido três dias antes do fechamento. Se as ações da Netflix oscilarem entre US$ 97,91 e US$ 119,67, o valor recebido se mantém estável. Caso o valor saia dessa faixa, as proporções de troca de ações serão ajustadas para equilibrar a compensação aos acionistas da WBD.
A transação já recebeu aprovação unânime dos Conselhos de Administração de ambas as empresas. Instituições financeiras como Moelis & Company, J.P. Morgan e Wells Fargo estão atuando como consultores financeiros no processo, garantindo o financiamento da dívida necessária para a operação.
O spin-off da Discovery Global: O que não entra no negócio
Um ponto crucial para entender a nova configuração do mercado é que a Netflix não está adquirindo a totalidade do conglomerado atual da Warner Bros. Discovery. Antes da fusão, a WBD realizará o spin-off (separação) de sua divisão de redes globais.
A nova empresa independente, denominada Discovery Global, deterá ativos significativos de notícias e esportes. Entre as marcas que não farão parte da Netflix estão:
- CNN;
- TNT Sports (nos EUA);
- Canais Discovery;
- Canais de TV aberta na Europa;
- Produtos digitais como Discovery+ e Bleacher Report.
Essa manobra permite que a Netflix foque estritamente no entretenimento roteirizado (filmes e séries) e no streaming premium, evitando a complexidade de gerir redes de notícias ao vivo e direitos esportivos lineares neste momento.
Integração de catálogos e impacto no consumidor
A aquisição une duas das maiores bibliotecas de conteúdo do mundo. A Netflix, que já possui sucessos globais como Stranger Things, Round 6 e Bridgerton, passará a controlar franquias históricas da Warner Bros. O portfólio adquirido inclui o Universo DC, Game of Thrones, Harry Potter, The Big Bang Theory e clássicos do cinema como O Mágico de Oz e Cidadão Kane.
Segundo Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, o objetivo é combinar a “inovação e alcance global” da plataforma com o “legado centenário de narrativa” da Warner Bros. A empresa afirmou que pretende manter as operações atuais da Warner Bros., incluindo o lançamento de filmes nos cinemas, uma estratégia que difere do modelo tradicional de “apenas streaming” que a companhia priorizou no passado.
Sinergias e expectativas de mercado
Do ponto de vista corporativo, a fusão visa gerar valor através da escala. A Netflix projeta uma economia de custos (sinergias) de pelo menos US$ 2 a US$ 3 bilhões anuais até o terceiro ano após a conclusão do negócio. A expectativa é que a transação comece a gerar lucro por ação (acretiva) a partir do segundo ano.
Greg Peters, co-CEO da Netflix, destacou que a aquisição fortalecerá a capacidade de produção nos Estados Unidos e permitirá um investimento contínuo em conteúdo original. Para os criadores e talentos da indústria, a promessa é de maiores oportunidades de trabalhar com propriedades intelectuais renomadas e alcançar uma audiência global ampliada.
Enquanto o processo regulatório segue seu curso, ambas as empresas continuarão operando de forma independente. O mercado agora aguarda os desdobramentos da aprovação pelos órgãos antitruste, dado o tamanho da consolidação proposta no setor de mídia e entretenimento.
Fonte: Netflix